Foi aprovado na terça-feira última, pela Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei
8035/2010 que cria o Plano Nacional de Educação (PNE) e estabelece a destinação
de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para o ensino público. O próximo passo é
a aprovação do texto no Senado.
Por Renato Rabelo*
Além disso, o Projeto de Lei aprovado na Câmara determina a
utilização de 50% dos recursos do pré-sal, incluídos os royalties, diretamente
em educação de forma que, ao final de 10 (dez) anos de vigência do PNE, seja
atingido o percentual de 10% do PIB para o investimento no ensino.
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Trata-se de uma das mais importantes vitórias obtidas pelas
forças progressistas e dos movimentos sociais nos últimos tempos. É resultado
de um amplo processo de acúmulo de forças, décadas de lutas e energia
concentrada no objetivo de alçar a educação a um patamar condizente com o
tamanho e as demandas de um país do porte do Brasil.
Ressalto o espírito combativo e a consequência política de
entidades como a União Nacional de Estudantes (UNE) e a União Brasileira de
Estudantes Secundaristas (Ubes), que estiveram à frente desta luta não somente
na agitação pura e simples. A UNE e a Ubes foram além, elaborando propostas,
partindo para o convencimento tanto no campo das ideias quanto na luta política
e demonstrando uma visão de país que vai além de questões específicas e
imediatas. São entidades com estratégia de país e visão de futuro, que têm
contado com a compreensão e o comprometimento da presidenta Dilma Rousseff, a
qual tem elogiado o papel destas lideranças estudantis e, ao mesmo tempo, a
presidenta demonstra com este resultado alcançado o descortino de horizontes
para nossa grande nação.
É sempre importante ressaltar o papel atribuído pelo PCdoB à
educação, à ciência, tecnologia e inovação. A educação é uma das pilastras mais
importantes da estratégia de nosso partido, sintetizada no Novo Projeto
Nacional de Desenvolvimento (NPND). O NPND só é possível nos marcos do
desenvolvimento das forças produtivas avançadas de nossa nação. O NPND é a
síntese de um projeto de nação centrado no desenvolvimento do povo brasileiro.
E sem educação não é possível nem desenvolvimento das forças produtivas, nem
tampouco desenvolvimento das potencialidades de nosso povo.
A relação entre aumento dos investimentos em educação e o
NPND está no caráter estratégico de ambos. No que se refere à educação, a
vitória nesta votação na Câmara aponta para a superação da falsa dicotomia
entre gastos e investimentos. A educação não pode ser vista como mais um item
na planilha de gastos do governo e sim como uma aposta no futuro da nação em um
mundo onde o poder está cada vez mais determinado pela capacidade de um país em
obter êxitos em matéria de ciência, tecnologia e inovação.
Houve avanços na área desde 2003, mas os indicadores
brasileiros nesta matéria ainda são muito insuficientes. Em 2010, os
investimentos em educação em nosso país foram de 5,1% do PIB, enquanto que na
Bolívia este indicador chegou a 6,4% e na União Europeia a média foi de 7,2%.
Em janeiro, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco) divulgou o índice de desenvolvimento da Educação de 128
países. O Brasil aparece na incômoda 88ª posição, perto de Honduras (87ª),
Equador (81ª) e Bolívia (79ª) – e longe dos nossos vizinhos Argentina (38ª),
Uruguai (39ª) e Chile (51ª).
Os números frios atestam uma realidade onde a educação ainda
não consegue cumprir seu papel em nosso país. Demonstram também um processo
histórico de desmonte do sistema público de educação acelerado com a violência
neoliberal da década de 1990 e indutor da completa privatização e
mercantilização do ensino, com consequências ainda a serem analisadas e
debatidas.
Essa vitória obtida na terça-feira pode ser o início da reversão
deste quadro. A sinalização é clara de que existe uma estratégia de país sendo
construída ao longo dos últimos anos onde a educação vai ganhando seu devido
espaço, que se amplia com as possibilidades abertas pelo pré-sal. Devemos
comemorar cada vitória do povo e do país com a consciência clara de que o
percurso é longo, sinuoso e difícil.
*Renato Rabelo é presidente nacional do Partido Comunista do
Brasil
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