domingo, 12 de abril de 2020

A Educação na COVID - 19

Estamos vivendo uma crise epidemiológica mundial por causa da COVID -19, por isso é denominada de pandemia. Aqui no Brasil assim como diversos países no mundo, acredito mais de 140, estão a todo custo tentando realizar uma tarefa muito difícil para conter o coronavírus : o isolamento social. Mesmo que alguns negacionistas ainda insistam em furar o isolamento e cometem o crime de se contagiar e contagiar outras pessoas.
O isolamento social tem exposto diversas falhas da sociedade e sistema capitalista bem como falhas de governos atuais e anteriores, começando pela falta de caráter de diversos empresários, muitos destes brasileiros, passando pela inabilidade de governantes, que estão pouco se lixando para saúde dos trabalhadores. Mas uma das falhas, e é esta que faz parte da temática deste blog, que está bem exposta no momento para todos verem é a imensa deficiência que houve dos governos brasileiros em todas as esferas de integrar a Educação( ensino e aprendizagem) desde a Educação Infantil até o Ensino Médio com as ferramentas tecnológicas de informação.
Neste blog já foram escritas algumas conjecturas sobre tecnologias que lembro a seguir:
Os três textos acima são diferentes e iguais ao mesmo tempo. Iguais porque discorrem da mesma temática: tecnologia educacional. Diferentes porque em cada um deles há um aspecto diferente apontado como, por exemplo, acesso, utilização e até mesmo indícios de má gestão do dinheiro público. Entretanto, todos acabam por expôr a mesma situação: a dificuldade que o poder público brasileiro, nas diversas esferas, tem para integrar tecnologia e educação. E nesse momento isso fica mais evidente já que de uma hora para outra professores tiveram que produzir conteúdo online para alunos.
Essa dificuldade tecnológica é bem fácil de perceber, basta você que está lendo esse texto pensar na escola onde você estudou, onde você tem uma criança sendo sua parente ou não estudando, e tentar lembrar quanto tempo você esteve utilizando um computador, quanto tempo essa criança parente sua ou não passa utilizando um computador na escola. Com certeza a resposta será o menor tempo possível. Mesmo em redes, como a municipal de SP, que contam com laboratórios e aulas de informática, esse tempo é pouco.
Transformando a ideia acima em dados estatísticos por meio de pesquisas realizadas tanto por órgãos independentes quanto por órgãos governamentais temos mais clareza desta deficiência educacional no país. Em 2013, por exemplo, 95% das escolas públicas tinham computadores instalados, entretanto, apenas 6% são em sala de aulas regulares, o que aumenta o acesso e a utilização pelos estudantes, todo o restante estava instalado na sala dos diretores, coordenação e/ou secretaria. Nesse mesmo ano foi verificado que o acesso a tecnologia pelos alunos nas escolas públicas era limitado, mesmo havendo os equipamentos, isso porque a quantidade de equipamentos era bem inferior a quantidade de alunos. Esses são dados da pesquisa TICEducação 2013.
Ao ampliar o escopo da ideia, não restringindo o acesso a tecnologia para dentro da escola e não apenas para computadores e incluirmos aí os smartphones, temos dados que parecem "melhores". Em pesquisa do IBGE de 2016, mostra que 138 milhões de brasileiros tem acesso a um smartphone, mais amplo que isso é o dado da mesma pesquisa que diz que 77,1% da população com 10 anos ou mais de idade tinham um aparelho próprio. A mesma pesquisa ainda diz que considerando os dados por faixa etária, as pessoas entre 25 e 33 anos são as que concentram o maior número de indivíduos com aparelho celular, sendo 88,6%. Na perspectiva da pesquisa e considerando a temática deste texto a análise que nos interessa é o fato de ainda restar 33% a população sem acesso ao aparelho que parece ser algo tão fácil de se ter e que as crianças que poderiam ter o smartphone como instrumento educacional não fazem parte da imensa maioria que o possuem.
Voltando ao ambiente escolar dados mais recentes encontrados no Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2019 elaborado pelo Todos Pela Educação, encontramos uma realidade deficitária muito grande no Ensino Fundamental comparada ao Ensino Médio, em relação aos recursos tecnológicos. Veja:



Como visto na imagem 1, o número de laboratórios de informática não chega a 50% das escolas de Ensino Fundamental do Brasil, ou seja, mais de 50% dos estudantes de Ensino Fundamental no Brasil não tem contato com os equipamentos de informática dentro de suas unidades escolares. Os números do Ensino Médio são mais alentadores. 
Com dados mais recentes podemos chegar então, ao contexto pandêmico atual. Nesta conjuntura em diversos Estados e municípios brasileiros foi decretado estado de calamidade pública no esforço de conter o avanço  da contaminação por coronavírus, o que fez os estabelecimentos de ensino público e até os privados fecharem as portas. Em primeiro momento as aulas foram suspensas e posteriormente, em alguns locais houve a antecipação do recesso escolar de julho e até mesmo das férias. Todavia, ainda não há uma verdadeira extensão de como vai ficar a situação, por isso as redes de ensino começaram a se mobilizar para viabilizar uma forma de levar conteúdo aos estudantes em suas casas.
A rede municipal de SP, por exemplo, está enviando pelos Correios uma apostila denominada "Trilha das aprendizagens" sendo para cada criança uma apostila especifica de seu ano. Entretanto, solicitou via "carta aos educadores" que os mesmos usem o Google Classroon para dar apoio as crianças. Esse é um exemplo, que podemos dizer, de uma prática boa pois não vincula o conteúdo exclusivamente ao digital.
Temos, entretanto, diversas redes municipais que ainda não conseguiram viabilizar a plataforma de ensino. Isso é mais uma demonstração das dificuldades que o poder público tem em fazer a junção da tecnologia da informação com o ensino aprendizagem. Mesmo este tema não sendo novo para os gestores públicos.
Outro ponto a ser levantado é a má formação inicial e continuada dos professores para trabalhar os seus conteúdos com tecnologia. Isso ficou muito evidente com os diversos memes que surgiram sobre professores usando tecnologias para dar aulas. Isso demonstra mais uma das falhas que existe na educação brasileira em relação a Educação. Outro ponto a ser citado em relação aos professores é que não existe amparo legal e que os profissionais de educação têm posição contrária à Educação a Distância (EaD) na educação básica.
Há, porém, algo importante a ser dito: não podemos cair no papo da educação EaD como via de regra para a educação básica do ensino público. Como já citado temos 1/3 da população que não tem acesso a aparelhos de celular e com certeza esse número aumenta se verificarmos o acesso a computadores em todas as suas formas. A forma de garantir o acesso a todos são as unidades escolares. Imaginar que educação EaD para o Ensino Fundamental e Ensino Médio é o viés do momento é um erro e um retrocesso.Tais atividades no momento devem ser facultativas  e pelo ineditismo da situação, não pode ser aplicado às pressas, ignorando os múltiplos aspectos que envolvem alunos, pais, mães e/ou responsáveis, professores, equipe técnica e demais profissionais de educação.